11 de novembro de 2011

Pós TEDx AsaSul. Tristeza.


Este, definitivamente, não é o lugar mais apropriado para fazer estas críticas, mas não consegui dormir com tanta coisa na cabeça. Tive que escrever, tive que publicar. Acabo de voltar do TEDx AsaSul. E estou triste.

Na verdade eu nao deveria estar descepcionada, pois eu fui ao evento com a ideia de abrir a cabeca para novas ideias e isso, de certa forma, aconteceu.

O TED é pra mim um lugar de divulgar novas ideias, ideias que sejam inspiradoras para outras pessoas, que as faça pensar por um outro angulo. Mas o TEDx AsaSul foi um conjunto de empresas falando sobre o que elas fazem. Pelo menos 50% das palestras foram dadas por empresários (ou representantes de empresas) fazendo propaganda. A máxima foi uma palestra sobre inovação na carreira. Apos conseguir gastar 18 minutos explicando a diferença entre uma experiência internacional e uma experiencia cultural em outros paises, a conclusao foi A EmpresaX faz intercambios culturais.

Se a intenção era fazer um evento bancado por empresários para que eles se promovam, ok. Só não o chamem de TED. TED tem que ter ideias! E ideias muito boas, worth spreading.

O tema central era inovação. No final, foi muita enrolação que terminava em “conclusão: inovem”. E essa enrolação era preenchida com fatos estilizados sobre a internet que, em sua maioria, são de conhecimento geral. Poxa, o público do TED já sabe que hoje não se vive sem internet. São pessoas que, além saberem o basico da internet, sabem usá-la para adquirir conhecimento. E, por serem uma amostra viesada, são pessoas um pouco mais espertas, que não querem ouvir o be-a-bá de como a vida mudou com a internet.

Já que esse básico é conhecimento geral, eu esperava escutar algo mais. Por exemplo, foi falado que as geladeiras do futuro serão capazes de nos dizer o que comprar e também que, devido à inovação, nós já podemos prevenir pessoas em áreas de risco de possíveis deslizamentos de terra por causa de chuvas. Ótimo saber que  a inovação pode ter esse impacto importante. Importante no segundo caso, claro. E somente no segundo. Seria ético gastar tanta energia - tanto no seu sentido de esforço como no sentido de recursos naturais - para fazer com que uma geladeira fale sendo que vivemos em um mundo de tanta pobreza? Como foi mencionado por vários palestrantes, vivemos em um mundo de 7 bilhões. Será que fazer uma geladeira advinhar o que falta é prioridade para essas pessoas?

Outro aspecto importante: o que está por trás dessa ferramenta linda que é um smartphone? Confesso que o meu telefone tem muitas funcionalidades (adoro o rádio, em especial). Não uso 3G, mas tenho Skype com Wi-fi por conta de uma situação pessoal particular (e passageira!). Mas há tempo que eu estou incomodada com a curta vida útil desse aparelho. É o meu segundo Sony e, como o primeiro, parece que não vai durar mais de um ano. Estou louca para voltar para o Nokia 6120. Essa questão da curta durabilidade, trazida naturalmente pelas inovações e talvez também forçada para que essas sejam incorporadas com mais facilidade, me incomoda muito. Incomoda porque esse aparelho consumiu muita energia no seu processo de fabricação! Muitos recursos foram usados, sendo que alguns desses são escassos. Incomoda também pelo dinheiro que eu paguei. Esse dinheiro me pagaria uma viagem e, apesar de eu poder abrir mão dela uma vez, não tenho intenção de faze-lo constantemente.

Dentre os recursos gastos, me incomoda também os recursos humanos envolvidos. Coincidiu que esse TEDx veio no mesmo dia que eu conheci o SlaveryFootprint e o PhoneStory. Esses jogos deixam claro que alguns dos recursos usados na fabricação de smartphones fazem uso de trabalho escravo. E não dá pra se sentir bem pensando nos escravos que fabricaram aquele aparelho! Assim como eu só fiquei conhecendo esses sites hoje, várias pessoas não o conhecem. E como será a utilização desses aparelhos quando um número maior de pessoas tiverem consciência disso?

Um último ponto sobre inovação que me incomodou. Um palestrante terminou a apresentação com uma foto do Steve Jobs. Com muito respeito ao seu lado inovador e empreendedor, eu quero dizer algo que vem me incomodando desde que ele morreu: Steve Jobs não é meu ídolo! Ele criou um bem de luxo, inacessível a grande maioria da população e usou muita, muita, propaganda para fazer com que todos quisessem os seus produtos. Resultado: o Iphone é motivo da maioria dos pickpockets ao redor do mundo. Não seria isso um conflito social indesejável? Outro: o que que as pessoas estão deixando de consumir para comprar um produto que custa uns 4 salários mínimos?

Por tudo isso, acho que faltou uma consideração ética a respeito de toda essa inovação. Inovação pra que? Essa é uma pergunta essencial que não foi tocada. O uso de uma ferramenta pode ser bom ou ruim. O importante é definir sua finalidade e suas implicações.

Mesmo que fosse pelo lado business tão presente nesse TED, essa questão é relevante. Como será a demanda por esses produtos em um futuro de pessoas mais bem informadas? A final, a Appel Store e o Mercado do Androide podem ter banido a distribuicao do aplicativo PhoneStory, o conteúdo ainda está todo no site deles
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ps: eu continuo adorando o TED. E talvez esse seja o motivo que me levou ao desabafo. Não desvirtuem o TED! De qualquer forma, ele foi só a gota d'água para várias dessas inquietações.

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