Este, definitivamente, não é o lugar mais apropriado para fazer estas críticas, mas não consegui dormir
com tanta coisa na cabeça. Tive que escrever, tive que publicar. Acabo de voltar do TEDx AsaSul. E estou triste.
Na verdade eu nao
deveria estar descepcionada, pois eu fui ao evento com a ideia de abrir a cabeca
para novas ideias e isso, de certa forma, aconteceu.
O TED é pra mim um
lugar de divulgar novas ideias, ideias que sejam inspiradoras para outras
pessoas, que as faça pensar por um outro angulo. Mas o TEDx AsaSul foi um conjunto
de empresas falando sobre o que elas fazem. Pelo menos 50% das palestras foram
dadas por empresários (ou representantes de empresas) fazendo propaganda. A
máxima foi uma palestra sobre inovação na carreira. Apos conseguir gastar 18
minutos explicando a diferença entre uma experiência internacional e uma
experiencia cultural em outros paises, a conclusao foi A EmpresaX faz
intercambios culturais.
Se a intenção era fazer
um evento bancado por empresários para que eles se promovam, ok. Só não o
chamem de TED. TED tem que ter ideias! E ideias muito boas, worth spreading.
O tema central era
inovação. No final, foi muita enrolação que terminava em “conclusão: inovem”. E
essa enrolação era preenchida com fatos estilizados sobre a internet que, em
sua maioria, são de conhecimento geral. Poxa, o público do TED já sabe que hoje
não se vive sem internet. São pessoas que, além saberem o basico da internet,
sabem usá-la para adquirir conhecimento. E, por serem uma amostra viesada, são pessoas
um pouco mais espertas, que não querem ouvir o be-a-bá de como a vida mudou com
a internet.
Já que esse básico é
conhecimento geral, eu esperava escutar algo mais. Por exemplo, foi falado que as
geladeiras do futuro serão capazes de nos dizer o que comprar e também que, devido
à inovação, nós já podemos prevenir pessoas em áreas de risco de possíveis deslizamentos
de terra por causa de chuvas. Ótimo saber que a inovação pode ter esse impacto importante.
Importante no segundo caso, claro. E somente no segundo. Seria ético gastar
tanta energia - tanto no seu sentido de esforço como no sentido de recursos
naturais - para fazer com que uma geladeira fale sendo que vivemos em um mundo
de tanta pobreza? Como foi mencionado por vários palestrantes, vivemos em um
mundo de 7 bilhões. Será que fazer uma geladeira advinhar o que falta é
prioridade para essas pessoas?
Outro aspecto importante:
o que está por trás dessa ferramenta linda que é um smartphone? Confesso que o
meu telefone tem muitas funcionalidades (adoro o rádio, em especial). Não uso 3G, mas tenho Skype com Wi-fi
por conta de uma situação pessoal particular (e passageira!). Mas há tempo que eu estou
incomodada com a curta vida útil desse aparelho. É o meu segundo Sony e, como o
primeiro, parece que não vai durar mais de um ano. Estou louca para voltar para
o Nokia 6120. Essa questão da curta durabilidade, trazida naturalmente pelas
inovações e talvez também forçada para que essas sejam incorporadas com mais
facilidade, me incomoda muito. Incomoda porque esse aparelho consumiu muita
energia no seu processo de fabricação! Muitos recursos foram usados, sendo que
alguns desses são escassos. Incomoda também pelo dinheiro que eu paguei. Esse
dinheiro me pagaria uma viagem e, apesar de eu poder abrir mão dela uma vez, não
tenho intenção de faze-lo constantemente.
Dentre os recursos
gastos, me incomoda também os recursos humanos envolvidos. Coincidiu que esse
TEDx veio no mesmo dia que eu conheci o SlaveryFootprint e o PhoneStory. Esses jogos deixam
claro que alguns dos recursos usados na fabricação de smartphones fazem uso de
trabalho escravo. E não dá pra se sentir bem pensando nos escravos que
fabricaram aquele aparelho! Assim como eu só fiquei conhecendo esses sites
hoje, várias pessoas não o conhecem. E como será a utilização desses aparelhos quando
um número maior de pessoas tiverem consciência disso?
Um último ponto sobre
inovação que me incomodou. Um palestrante terminou a apresentação com uma foto
do Steve Jobs. Com muito respeito ao seu lado inovador e empreendedor, eu quero
dizer algo que vem me incomodando desde que ele morreu: Steve Jobs não é meu ídolo!
Ele criou um bem de luxo, inacessível a grande maioria da população e usou muita,
muita, propaganda para fazer com que todos quisessem os seus produtos.
Resultado: o Iphone é motivo da maioria dos pickpockets ao redor do mundo. Não
seria isso um conflito social indesejável? Outro: o que que as pessoas estão
deixando de consumir para comprar um produto que custa uns 4 salários mínimos?
Por tudo isso, acho
que faltou uma consideração ética a respeito de toda essa inovação. Inovação
pra que? Essa é uma pergunta essencial que não foi tocada. O uso de uma
ferramenta pode ser bom ou ruim. O importante é definir sua finalidade e suas implicações.
Mesmo que fosse pelo lado
business tão presente nesse TED, essa
questão é relevante. Como será a demanda por esses produtos em um futuro de
pessoas mais bem informadas? A final, a Appel Store e o Mercado do Androide
podem ter banido a distribuicao do aplicativo PhoneStory, o conteúdo ainda está
todo no site deles.
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ps: eu continuo adorando o TED. E talvez esse seja o motivo que me levou ao desabafo. Não desvirtuem o TED! De qualquer forma, ele foi só a gota d'água para várias dessas inquietações.
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Vamos trocar figurinhas? : )